quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Diário: Pinheiro de Loures, 25 de Abril de 1974

Hoje de manhã cedo tomei o pequeno almoço e fui para a escola enquanto a minha mãe foi trabalhar para casa da D. Natália. elas fazem uns vestidos tão bonitos!
Na escola estávamos todos numa festa animada à espera das professoras, tocou para a entrada, poucos minutos depois apareceu a sra. contínua à porta da sala e disse:
- As meninas da 4ª classe hoje não têm aulas, houve uma revolução e a sra. professora foi chamada para o serviço de urgências do hospital, por isso, podem ir para casa.
A mãe da Inês chamou alguns de nós e touxe-nos para casa. A nossa curiosidade era tanta que não parávamos de bombardear a pobre senhora com perguntas, e então ela disse-nos:
- Sabem, hoje houve uma revolução, é um acontecimento muito importante para todos nós, como a vossa professora também é enfermeira,ela teve que ir ajudar no hospital.
Fui ter então, com a minha mãe a casa da D. Natália. Ao chegar, toda satisfeita por não ter aulas, perguntei o que era uma revolução mas, a minha mãe disse-me para ir brincar que em casa falávamos. À tarde fomos ás compras e ouvi as pessoas falarem do assunto mas, confesso que não percebi nada do que falavam.
Ao jantar as dúvidas continuam, os meus pais falam entre dentes, ouvem as notícias com muita atenção e nada me dizem. Antes de vir para a cama questionei novamente a minha mãe sobre o assunto, e ela respondeu-me com muito carinho:
- Deixa lá filha, vai dormir, quando fores maior vais perceber tudo isto.
Com nove anos não sou suficientemente grande? As frases que hoje ouvi não fazem sentido para mim, não consigo perceber nada! A confusão na minha cabeça é tanta que o melhor mesmo é eu ir dormir, pode ser que algum dia eu perceba tudo isto.

Paula Ferreira - 1AL

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