sábado, 30 de maio de 2009

AMIGAS PARA SEMPRE


Quando eu era pequena, gostava muito de ir passear com as minhas amigas. Iamos para os rios, montes, gostávamos muito de estar perto da natureza. Também fazíamos pique-niques, andávamos de bicicleta quase todos os dias, tentávamos descobrir mistérios, para depois resolvê-los. Foram dias muito bem passados. Um dia, uma de nós não pode ir mais aos passeios que fazíamos e ficámos todas muito tristes porque ela ia mudar de casa para longe. Continuámos a fazer os nossos passeios, mas faltáva sempre a nossa amiga que tinha partido com os pais. Passaram-se muitos anos e recentemente voltámo-nos a encontrar. Falámos das nossas memórias e do presente. Ainda hoje continuamos muito unidas e por vezes, relembramos a nossa infância. Foram tempos muito divertidos e que ficaram na memória de todas nós.
VERA

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Futuro Dançarino


Quando era pequeno, a minha alegria era dançar às marchas de são joão. Um dia levámos a brincadeira mais séria e acabamos a desfilar na rua. Os vizinhos acharam muita graça e aplaudiram-nos muito. Para mim foi uma alegria pois nunca me tinha sentido tão feliz. Pasaram-se muitos anos. Quando olho para trás lembro-me desse episodio, que marcou a minha vida porque passei a encarar a dança como uma vocação. A dança para mim hoje é tudo, é uma profissão que vou seguir. Adoro sentir as pessoas a bater palmas ao verem um rapaz profissional dançar tão bem. O meu objectivo é o meu esforço e trabalho chgar a profissional.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Sopa? Só com historias



Quando eu era pequena não gostava de comer sopa. Só comia sopa quando a minha avó me contava histórias em que a personagem principal era eu.

Um dia, a minha mãe quis dar-me sopa e eu não quis comer pois a avó não estava, e eu como sempre queria as históriazinhas da avó babada. Fiz uma enorme birra. Chorei, esperneie, gritei… Até que levei uma grande palmada da minha querida mãe, aquela que eu pensava ser a minha defensora. Fiquei tão magoada que aos soluços comi a sopa toda sem ouvir as histórias da avó.

Passaram-se muitos anos e quando olho para trás percebo que não passava de uma criança birrenta, teimosa e mimada. Até porque hoje adoro sopa, e como sopa sem histórias.

Elsa Raposo

Sozinha em casa

Quando eu era pequena tinha muito medo de ficar sozinha em casa e também tinha muito medo do escuro.

Um dia fiquei sozinha com o meu irmão mais velho em casa, pois os meus pais precisaram de sair. O meu irmão para me meter medo fingiu sair de casa e trancou-me lá dentro. Fiquei muito assustada e comecei a gritar de desespero enquanto o maquiavélico do meu irmão ria à gargalhada do lado de fora da porta.

Passaram-se muitos anos e quando olho para trás percebo que não valia de nada ter medo, pois agora o que eu mais gosto é de ficar sozinha em casa.


Diana Oliveira

Quando eu era pequeno a minha brincadeira preferida era andar pendurado nos eléctricos!
Um dia o eléctrico ia com uma velocidade tão grande que quando saltei me desequilibrei
e, em sentido contrário, vinha outro eléctrico... rebolei uma 4 ou 5 vezes entre os dois eléctricos, foi o maior susto da minha vida.

Não sei como saí daquela situação , nem como não aconteceu ali um grande acidente.
Passados estes anos, quando olho para trás, lembro-me daquele episódio como o maior susto que apanhei na vida (até então)!

Aprendi nesse momento que a vida não é uma certeza e que o perigo está à espreita em qualquer esquina.
Nesse dia cresci muito depressa, e perdi as minhas 6 vidas!!

Miguel Primor




A escola e eu


Quando eu era pequeno, nunca estive virado para a escola. Sempre estive mais chegado aos brinquedos, aos desenhos animados e tudo que me deixasse na maior animação. Sempre dei valor à minha liberdade, mas tinha de ir à escola, como todas as outras crianças.

Um dia, como todas as manhãs, a minha mãe, como sempre, foi-me levar ao Colégio. No caminho, eu já vinha fazer uma birra enorme. Eu não queria mesmo ir para a escola. Naquele dia era mesmo a sério. Quando chegámos, a minha mãe saiu do carro para me levar ao portão e foi então que, não quis sair do carro. Fechei as portas por dentro e fiz a minha mãe passar uma grande vergonha. É claro que no fim daquela grande birra, não tive outro remédio, senão ir para a escola.


Passados estes anos, quando olho para trás, vejo que esse episódio marcou a minha vida porque nunca gostei da escola e nunca me quis adaptar. E hoje em dia, por só ter feito o mínimo de escolaridade continuo na escola à conta disto.


Fernando Silva

As ervilhas e eu

Quando eu era pequena vim viver para a companhia da minha madrinha.
Um dia ela comprou ervilhas e pôs-me a descascá-las. Eu tinha cinco anos e, já estava tão farta de ervilhas que decidi ver-me livre delas. Então tirei tudo do caixote do lixo e deitei para lá as ervilhas que faltava descascar e voltei a colocar o lixo todo e as cascas. Toda contente fui dizer que já tinha acabado, o pior é que a minha madrinha deu logo pela minha esperteza, pois achava que as ervilhas eram poucas e, é claro, apanhei umas palmadas.
Passados estes anos olho para trás e são estas "histórias" contadas centenas de vezes que sempre que nos reunimos nos fazem rir. E é claro que agora entendo a atitude da minha madrinha, eu estava a ser pregiçosa e estragadona.



Cristina Garcia

Pneus, sempre Pneus...





Quando era pequeno, acompanhava o meu Pai nas suas viagens por Portugal inteiro, quando ele ia recolher Pneus velhos.
Um dia, portei-me muito mal na Escola e por castigo comecei a trabalhar com ele nos Pneus, embora fosse remunerado.
Passados estes anos, olho para trás e dou graças a esse castigo o qual fez de mim um bom Profissional em Pneus (Segundo dizem!)...


Luis Comunhas

A vaca da minha avó



Quando era pequeno passava as férias de verão na terra dos meus pais em paredes de coura e ficava muito admirado ao ver rapazes e raparigas da minha idade a levar o gado a pastar: vacas, cabras, ovelhas.

Um dia, em casa da minha avó materna, lembrei-me de levar uma das vacas a pastar. Os meus pais como nao sabiam dessa minha aventura, ficaram preocupados. Quando cheguei a casa levei uma valente sova e fiquei revoltado porque não entendia o que tinha feito de mal.


Hoje percebo o disparate que fiz, pois na altura era muito pequeno e não estava habituado a essas tarefas nem a lidar com um animal tão grande, uma vaca minhota que apresentava umas hastes de cerca de 1metro cada. A vaca era de uma raça muito típica do minho "gado pisco",cada corno media em média 1metro!




Américo da Cunha

Não brinque com o fogo


Quando eu era pequeno tinha os meus 8 ou 9 anos, gostava muito de brincar com carrinhos de bombeiros com o João um amigo meu de infância. Os fogos que nós apagávamos!

Um dia nas férias grandes eu e o meu amigo fizemos uma casa em caixas de cartão e deitamos-lhe fogo para apagar em seguida. O problema é que fizemos essa simulação do fogo junto a um palheiro de um vizinho nosso e quase pegamos fogo a esse palheiro.

Passaram-se alguns anos, quando olho para trás vejo quanto essa brincadeira foi importante para o que sou hoje. Hoje sou bombeiro e por coincidência, já tive de ir acudir a um incêndio nesse mesmo palheiro onde à anos ia provocando um acidente.


Jesus Pires

Os cães nem sempre são nossos amigos


Quando eu era pequeno gostava muito ir para a loja da minha vizinha porque ela tinha cães e deixava-me brincar com eles.

Um dia a minha vizinha teve que sair da loja e deixou-me sozinho com um caclorro mas esqueceu que a mãe do caclorro estava solta. Quando a cadela passou pela a loja e me viu a brincar com a cria mordeu-me a mão e tive que ir para o hospital para ser cosido.

Passaram-se muitos anos e quando olho para trás vejo a sorte que tive. Afinal a cadela só mordeu a minha mãe para agarrar na sua cria e foi-se embora a seguir. Hoje sempre que passou por algum cão e não o conheço fico sempre com a sensação que me vai morder. Ainda hoje não tenho uma relação facil com cães.

Bruno Vaz

A Vida é um Milagre...


Quando era pequeno, tinha por habito explorar com os meus amigos e irmãos os arredores dos meus domínios que, na altura, ofereciam atracções deliciosas como uma pedreira cheia de grutas onde os mais destemidos comprovavam toda a sua valentia. Todos nós tínhamos sensivelmente seis anos e as grutas eram enormes aos nossos olhos. Sim, digo grutas porque eram três, uma de acesso fácil mas com o percurso interior muito limitado, outra tão alta que só os suspiros mais loucos equacionavam a escalada e, por último, uma relativamente acessível.


Um dia quando finalmente tínhamos decidido escalar essa tal gruta mais acessível eu, e o meu comparsa Mário, estávamos tão decididos que não esperámos por ninguém (pois havia sempre alguém que descontinuava) e assim logo iniciámos a escalada. Já tínhamos subido um pouco quando, entre pé e contra pé apoiado, se liberta uma rocha enorme bem direita à minha irmã que apertava os atacadores serenamente sem se dar conta do risco que rolava. Por puro acaso não aconteceu uma fatalidade pois no último momento a pedra ressaltou noutra pedra e ela, perante a minha inércia em suspirar um grito de alarme mas com o corpo gelado, ela naturalmente abaixou-se para sei lá o quê… e lá passou o pedregulho bem junto à cabeça, tão grande que ninguém o conseguiu levantar.


Passados estes anos, quando olho lá para trás lembro-me de que no meio de tanta loucura inconsciente alguém se podia ter magoado o que não foi o caso mas pelo menos serviu de lição para o resto do dia…
Ricardo

A roubar nêsperas


Quando era pequena, tinha um amigo de quem gostava muito, chamava-se Diogo. Andavamos sempre juntos e faziamos as nossas traquinices sempre juntos. Gostavamos muito de ir para a "cerca" brincar com mais amigos. Morava lá uma senhora que nós chamavamos de Maria Pampoila que tinha uma nespereira super-apetitosa mesmo ao lado de casa.
Um dia, estavamos com fome e decidimos ir roubar nêsperas. Enquanto um de nós empatava a Maria Pampoila,o outro roubava as nêsperas. Nessa altura fartavamo-nos de comer nêsperas e claro que voltamos a repetir.
Passaram-se muitos anos. Perdi o contacto com o Diogo, nunca mais o vi, mas espero um dia reecontra-lo para recordarmos as nossas aventuras de quando eramos pequenos. Cheguei á conclusão que senão aproveitarmos os momentos enquanto eles estão a decorrer,nunca mais os voltaremos a ter.


Carla Rodrigues

Uma volta de carrinhos-de-choque


Quando eu era pequena, fui passear com a minha madrinha até ao Jardim Zoológico e, na altura havia lá alguns divertimentos. Claro que os quis experimentar a todos. E assim foi! Experimentei tudo menos os carrinhos de choque pois ela disse-me que aquilo não era para a minha idade.

Um dia voltámos ao Zoo e lá estavam os carrinhos de choque e todas as outras diversões. Voltei a insistir para andar neles e por incrivel que pareça consegui! A minha madrinha deixou-me andar sozinha. A minha viagem nem um minuto durou. Fui contra o lance da pista bati com a cara no volante do carro e rasguei o lábio por completo, e fui parar ao hospital.

Passaram-se muitos anos e quando olho para trás aprendi que por vezes os adultos até têm uma certa razão e cada vez que vejo carrinhos de choque nas feiras lembro-me sempre daquela minha primeira vez.

Tânia Bernardo

terça-feira, 19 de maio de 2009

Cabelo ao Vento

Quando eu era pequeno, adorava correr pelo campo fora, corria, corria sem parar, pelos campos verdinhos, com os passarinhos e outros animais a passarem-me rapidamente pelo olhar. Engraçado era dificil cansar-me, e lembro-me de ter sempre um sorriso quando o fazia...

Um dia, deixei a aldeia onde vivia e vim para a cidade, um sonho que queria realizar, viver na capital onde tudo é novo e fantastico, muitas pessoas, grandes prédios, oportunidades de emprego; enfim uma ilusão...

Passaram-se muitos anos e as recordações da alegria que tinha quando corria no campo aumentaram, hoje em momentos de stress e tristeza é para lá que me transporto, sinto então liberdade de espirito, é como se voltasse a ser pequeno outra vez, tenho saudades...

O ODOR QUE PAIRA NO AR


Quando eu era pequena vivia numa casa que ficava no meio de dois jardins. Um deles, tinha quatro canteiros com váriios tipos mde flores, que perfumavam o caminho até chegar a um lugar que também era especial para mim: o cantinho das crianças, com baloiços, um escorrega e cavalinhos.(eu sentia-me dona dos baloiços).

Um dia quando entrava no jardim notei que havia no ar um aroma diferente... O jardineiro chamou-me para eu observar umas borboletas que saltitavam de flor em flor e enquanto eu olhava com atenção para as borboletas reparei que a terra estava molhada e a relva cortada logo descobri de onde vinha aqueles aromas tão especiais.

Passaram-se muitos anos . Mas ainda hoje, quando passo por um jardim onde a relva foi aparada ou simplesmente regada tenho vontade de fechar os olhos e sentir o odor que paira no ar e sinto-me outra vez uma menina.

Ana Maria Brito

AS BATATAS NOVAS

Quando eu era pequena, o meu pai passava a semana a trabalhar. Saía na segunda-feira de manhã e só voltava na sexta-feira à tarde.
Um dia, queixou-se que não tinha tempo de arrancar as batatas que tinha semeado e que estavam prontas a arrancar. Eu e o meu irmão mais velho, que tem mais dois anos que eu, (na altura eu tinha seis anos e ele oito) decidimos fazer uma boa acção, ou seja, arrancar as batatas. Se o pensámos melhor o fizemos. Mas como não tínhamos força para pegar na enxada, cortámos e estragámos as batatas quase todas... no final ainda levámos uma tareia.
Passados estes anos olho para trás e sinto-me injustiçada, pois por muito que tenhamos vontade de ajudar nem sempre temos reconhecimento pelos nossos actos.

A MENINA E OS FIGOS...


Quando eu era pequena, adorava vender os figos da minha avó.


A minha avó tinha na casa dela uma linda figueira, grande e carregadinha de figos maravilhosos, enormes, doces...luziam.Todos os dias deitavam-se figos fora, estragavam-se ou estavam bicados dos passarinhos que se deliciavam pousados nos galhos. A minha " pobre " avó lamentava-se todas as manhãs, com os braços cheios de leite dos figos e no seu casaco, de andar a apanha-los pela fresquinha.



Um dia, com os meus 6/7 anos, levantei-me mais cedo do que os meus avós, trepei à figueira, de galho em galho, degrau de escadote em degrau, e fui enchendo o meu saco.

Coloquei aqueles figos brilhantes dentro de um cestinho de vime, e fui vendê-los no mercado, a uma bancada de uma senhora conhecida que me pagou 500.00 escudos enquanto, em casa os meus avós estavam preocupados sem saberem de mim.

Quando cheguei a casa, contei o que tinha feito e mostrei o dinheiro. Os meus avós acharam engraçado mas disseram-me para não voltar a fazê-lo.


Passaram-se muitos anos. Quando me lembro daqueles tempos... fica uma saudade, uma recordação de actos e atitudes inocentes.


Ana Mota

As Mangas da casa do vizinho

Quando eu era pequena sempre fui muito terrivel e trapalhona.
eu vivi e nasci em angola até aos 11 anos , recordo-me de uma casa um pouco grande e vivia meus primos e irmãs, recordo-me que aminha casa era no piso de cima e em baixo viviam outras pessoas.
Na casa dos voizinhos havia um quintal que tinha uma arvore de mangas.
um dia , nao sei o que me deu subi para cima do telhado da minha casa que dava para casa do vizinho para colher mangas so que o meu telhado tinha uns pregos .quando fui colher a manga feri o pé num prego , mas nao liguei sentei-me num banco tracei a perna e comi a manga .
passados alguns dias tive que ir levar a vacina do tetano.
passado alguns anos , quando olho para trás penso que quando somos crianças fazemos coisas engraçadas.
Mas tenho a certeza que se bem que crescidos continua sempre dentro de nós uma crioança.

memórias da terra africana








Quando eu era pequeno brincava com os outros meninos da minha idade às escondidas, à cabra cega, à bola etc. Estudava e também participava nas tarefas de casa: ir buscar água ao chafariz, ajudar no campo no cultivo do milho, da batata doce, da abóbora, da beringela, do feijão, do tomate e do melão, tudo para o consumo de casa.
Nos dias chuvosos brincávamos debaixo da chuva, atirando barro uns contra os outros.
Passaram-se muitos anos e ainda me lembro que às terças e sextas feiras tinhamos que ir à estação do comboio, buscar o meu avô que era maquinista, porque ele sempre trazia coisas para nós.
Isto tudo aconteceu numa vila angolana chamada Porto Amboim.



António Castro Agostinho

O bem e o mal


Quando era pequenina, o meu pai batia-me pois eu não gostava de estudar. Na escola primária, o meu professor costumava bater com uma régua de madeira a quem não sabia escrever ou não sabia a tabuada. Eu cheguei a apanhar algumas vezes!
Passados estes anos, eu não dou erros ortográficos e gosto muito de matemática, mas por outro lado, quando alguém se aproxima de mim e levanta a mão (nem que seja para dar um abraço), penso logo que me vai fazer mal e refugio-me.
Marta Rebelo
Justificar completamente

A história do meu irmão


Quando eu era pequena costumava brincar no quintal de casa com o meu irmão que era mais pequeno. Eu tinha 3 anos e o meu irmão um ano

Um dia, a minha tia guardou um carrinho em cima de umas escadas, ele subiu e caiu. Eu fiquei muito assustada e fui chamar o meu avô que o levou ao hostipal.

Passaram-se muitos anos. Quando olho já para trás recordo-me deste episódio como se fosse hoje e ainda sinto o susto que apanhei naquele dia. Felizmente que tudo correu bem e ele hoje nem se lembra do que aconteceu.
Marta Pacheco

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Aqui começa a experiência

Plant Watching


Caríssimos alunos:

Este espaço é nosso, só nosso.... temos de começar a preenchê-lo.

Vamos começar com as memórias?


Vou publicar aqui o ternurento texto da Maria Rosa Colaço para que sirva de inspiração a outras memórias....




As asas crescem devagar

Quando eu era pequena, a minha maior alegria era semear coisas. Semeava caroços de laranja, de nêspera, pevides de melão, raízes ínfimas de violetas, pétalas de cravo, olhinhos amarelos de malmequer. Semeava nos vasos, nos canteiros da escola e, sobretudo, debaixo de uma nespereira enorme que havia no quintal da minha casa de infância. As sementes transformavam-se. Primeiro eram folhas tenras, depois, plantas que cresciam, às vezes trepavam, às vezes... não acontecia nada.

Um dia o meu canário morreu. Logo, não percebi muito bem o que lhe tinha acontecido. Depois descobri que alguma coisa diferente, silenciosa, fria e inesperada, interrompia a vida. Então, fui também semear o canário. Durante dias e dias aguardei, debaixo da nespereira, que o canário voltasse. Primeiro seria o bico. Depois os olhinhos e, depois ainda, um voo rápido e uma canção.

Passaram-se muitos anos. Quando olho lá para trás sei que descobri que a vida é um milagre. Semear qulaquer coisa que fique, que cresça, que deixe um sinal, mesmo pequenino, deve ser o sentido dos nossos dias. E, em certas horas ainda acredito que o canário voltará. É talvez uma semente que demora um pouco mais do que as outras porque tem asas e as asas crescem devagar. Mas eu sei, tenho a certeza que um dia, de repente, no alto de uma árvore qualquer eu avistarei essa ave. E conto com vocês que me lêem para me ajudarem a descobri-la. Está bem?


Maria Rosa Colaço, in De que são feitos os sonhos, Areal

quarta-feira, 13 de maio de 2009