terça-feira, 3 de novembro de 2009

SERÃO TRANSMONTANO


Estou aqui, na casa dos meus tios em Vreia de Jales, numa noite de Dezembro. Mais um serão de Inverno em família.
Estou a ver o meu Tio João, dono da casa, sentado numa banca de três pés com a perna traçada e encostado a uma trave de madeira, ali está ele, todo o serão a dormir. A minha Tia Elmina esposa dele, sentada em frente, mesmo junto ao louceiro que é de pedra de granito tosco. Junto dela está a minha Mãe Ercília, depois a tia Silvina e marido também pessoas assíduas da casa. Estão os quatro a jogar às cartas pois a bisca é jogada com quatro parceiros. No outro cantinho do lar o meu tio João Vaz, com aquele olhar meigo com que sempre olha para os sobrinhos que são o seu enleio, pois ele não tem filhos. A tia Efigenia atrás do lar, faz meia.
Engraçado, todos os que são habituais sentam-se sempre nos mesmos lugares. Depois há outras pessoas que costumam ir passar lá também o serão, esses ocupam os lugares vazios ao acaso.
Há lugares para todos, é uma casa grande e antiga, com uma cozinha grande, com escano, um banco comprido e outros bancos.
Estão também os meus primos, Joaquim, José, Edite e Nazaré. Estão todos muito divertidos e felizes. Eu estou sentada numa banquinha pequena daquelas com um buraco no tampo. Atenta, oiço tudo. Falam de coisas sobrenaturais, almas penadas, luzes, ranger de portas ...
Estou com medo. Como só existe uma candeia no centro da lareira pendurada nas cambalheiras, faz-se sombra atrás de mim, encolho-me toda até já estou com dores nas costas, mas sinto-me protegida por todas estas pessoas crescidas que fazem coisa muito importantes como escramear, fiar, torcer lã e fazer meias, renda, bordar, ler e jogar à bisca. Estou feliz, já sinto o cheiro das maçãs e castanhas a assar na lareira.
Que risota acabou de estourar uma , foi cá um estouro!
Aldina Vaz Fonte 1BC.

20 comentários:

  1. Está magnifico, parece retirado de um livro antigo! esta uma História nunca antes vista e contada! Nunaca vi nada assim!
    ADOREI!!!!

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  2. que adoravel! eu quase chorei! adorei, e um belo trabalho.

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  3. Fiquei comovida com a história, fala dos meus avós. e naquela casa onde passei alguns anos. agora é dos meus pais e vou dizer-lhes que vou emoldurar a história e coloca-la num quadro á entrada para que quem lá vá a possa ler e veja a realidade que se vivia á tantos anos atrás.

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  4. que altamente! ta bue fixe!!!

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  5. Um verdadeiro serão transmontano concerteza. Sem televisão, e um convivio são e que tanta falta faz, nos dias que correm em que as pessoas cada vez estão mais afastadas e as novas tecnologias ocupam espaço em demasia.
    Contado por quem o viveu, que deve ter sentido grande nostalgia e saudade.
    Parabens, é bom saber como eram as coisas antes.
    Ler e aprender.

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  6. Um verdadeiro serão, tempos que passavamos uns com os outros, agora passamos tempo com a televisão. Parabéns um texto bem conseguido, que nos faz lembrar de tempos que não regressam.

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  7. Gostei imenso, fala da casa onde nasci e agora é minha, era um verdadeiro serão transmontano, onde também participei. Recordo com saudade
    bonito texto.
    Parabéns.

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  8. Aldina esqueceu-se de mensionar as alheiras,mas gostei muito

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  9. Parabéns e obrigado.Adorei ler!Um abraço.D.CARDOSO

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  10. OLá a todos os leitores.
    realmente não há palavras para descrever o sentimento com uma este texto foi escrito. uma maravilha sobrenatural.

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  11. UUUUUUUUUUUUUUUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    BESTIAL!

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  12. A perfeita descrição de um verdadeiro serão transmontano,passado em família e onde o mais importante era o convivio. Uma descrição levada ao pormenor por quem viveu todos estes momentos,tornando a leitura deste texto uma verdadeira "delicia".
    Simplesmente ESPECTACULAR!!!!!

    Muitos parabéns

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    1. muitos parabens cunhada
      um beijinho muito grande

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  13. MARAVILHOSO!!!!
    Aqui está um texto, uma história que, nota-se, ter deixado marcas e muita saudade.
    É pena que daqui a uns anos os pequenos de agora, não possam ter recordações como estas, mas cabe-nos a nós tentar que um dia eles possam dizer... " quando eu era pequenina era assim... e tenho tantas saudades..."
    O que também acho maravilhoso é que as histórias contadas nesses serões, independentemente da região, metiam sempre almas penadas e no fim da noite lá iam as criancinhas sempre a correr para a capa já quase a ouvir a alma penada atrás deles :)
    Adorei..

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  14. já li este texto milhares de vezes e ainda não consegui perceber se foi mesmo uma pessoa a escreve-lo!
    você é alguma escritora com prémio Nobel ou quê?!


    by: admiradora

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  15. gostei,fez-me lembrar nossos velhos tempos

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  16. Adorei o que li!!! A minha avó também é dessa pequena aldeia que venero! Linda! Local tão natural, genuíno... Vreia de Jales deixa-me sempre saudades na hora do "adeus"... Felicidades! Bárbara

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  17. Adorei ler este belo texto que a minha pipi fez sobre a minha família.
    Gostava muito de ter conhecer melhor o meu avô e conhecer a minha avó.
    Aldina Afonso Taveira
    aldina afonso

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  18. Este texto é altamente adorei .
    A pipi tem mesmo jeito para ser escritora.
    Também gostei muito de ler este texto tão bem composto.
    Aldina Taveira

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  19. Que espectacular !
    Já á muito não ouvia uma historia como esta.
    Otilio Pereira Taveira

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