domingo, 8 de novembro de 2009

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA

Quando eu era criança!.. Bem, tenho muitas recordações, mas não são propriamente agradáveis.
Tinha eu três anos, a minha mãe faleceu. Quatro anos depois o meu pai resolveu casar de novo. Esta mulher, era horrorosa, tratava-me mal e fazia-me passar muita fome. Quando chegou a altura de eu entrar para a escola, fiquei radiante, mas logo percebi que para mim esse caminho ia ser difícil de trilhar.
Para ir à escola, tinha que escapar às escondidas pois a minha madrasta não me deixava, queria que fosse trabalhar. Eu sempre fui teimosa e persistente naquilo que queria, principalmente no que achava mais correcto. Apesar de saber que quando regressasse a casa depois das aulas, ela ia dar-me uma coça, eu nunca desisti, fugia todos os dias ... o que eu queria era aprender!
O meu pai dava-me força, dizia: " Continua assim rapariga, tu sabes o que queres, vais longe!"
Por essa altura deu-se um fenómeno em Portugal! Pelo menos, era assim que eu via o começo da televisão. Na minha Terra, só uma pessoa possuía essa caixinha maravilhosa. Por azar era a minha professora que, por acaso, também era minha tia, tia essa que gostava muito de me bater na escola. Dizia ela que só batia a quem queria bem, mas não me deixava ver televisão. Assim, eu tinha que escalar um muro de arbustos que rodeava a casa dela para espreitar pela janela e ver televisão. Um dia fui surpreendida pelo meu pai, assustei-me. Desci às pressas e esfolei as pernas todas, fiquei furiosa e disse para o meu pai: - "Também hei-de ter uma televisão! Não, hei-de ter duas!"
Passados uns vinte anos, já eu era casada e tinha o meu filho, em minha casa existia uma televisão no quarto dele outra na sala. O meu pai visitou-nos como fazia todos os anos, deu uma volta pela casa, virou-se para mim e disse: " Eu não te tinha dito para continuares a ser teimosa? até tens duas televisões como prometeste!" Fiquei surpreendida com as palavras do meu pai, nunca me tinha apercebido que ele tinha torcido por mim, todos aqueles anos. Pensava eu que caminhava sozinha neste mundo mas, afinal, muito sorrateiramente e à sua maneira, o meu pai sempre tinha olhado por mim e eu não sabia.
Maria Célia Silva - 1ºAE

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