sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Informador, a CBS e as Tabaqueiras


Jeffrey Wigand começou a trabalhar na Brown & Williamson, 3ª maior Tabaqueira dos E.U.A em 1989. Foi contratado como Vice Presidente para a área de Pesquisa e Desenvolvimento. A sua principal função consistia em desenvolver cigarros mais “seguros”.

A utilização de algumas substâncias como a “Cumarina” que fazem chegar a nicotina mais depressa ao cérebro, revelaram-se agentes altamente cancerígenos. Esta informação foi dada ao CEO da empresa, que decidiu não as retirar com receio que as vendas baixassem.

Em 1993 Jeffrey Wigand é despedido por ….”poucas qualidades de comunicação”. É obrigado a assinar um contrato de confidencialidade que o impedia de falar sobre a sua actividade profissional na B & W, correndo o risco de perder todos os benefícios que lhe foram dados na altura do seu despedimento.

Lowell Bergman, produtor do programa “60 Minutos” da CBS, recebe anonimamente uns documentos da Philip Morris e pede a alguém que lhe indique uma pessoa que saiba analisar o documento. Jeffrey foi a pessoa chamada para os interpretar, o que não comprometia o seu acordo de confidencialidade. Após alguns meses de convívio Lowell toma contacto com a história de Jeffrey e pergunta-lhe se ele não estava disposto a dar uma entrevista para o “60 Minutos”.

“….Então você encontra-se numa zona de conflito. Porque é assim…Se tem informações internas vitais que o povo Americano precisa saber e se sente impelido a revelá-las e a violar o acordo de confidencialidade é uma coisa. Por outro lado, se quer honrar esse acordo….é simples…Não diga nada, não faça nada. Só uma pessoa pode decidir isso…..é você….”.

“….Quando 30 milhões de pessoas ouvirem o que tem a dizer, nada, mas mesmo nada, voltará a ser como dantes. Quando acabar terá lugar um julgamento no tribunal da opinião pública…”.

Após várias ameaças à sua família Jeffrey decide gravar a entrevista com a condição de ela ir para o ar apenas com o seu aval.

Em Abril de 1994, os CEO’s das 7 maiores tabaqueiras dos E.U.A, incluindo a B & W, testemunham perante o congresso e afirmam acreditar que a nicotina não é viciante.

Os editores do “60 Minutos” encontravam-se sobre forte pressão para não colocar a entrevista no ar. Essa pressão era exercida pela própria CBS, que em Setembro iniciou negociações para a fusão com o Grupo Westinghouse e também porque foi levantada uma questão jurídica. A Interferência Lesiva. As Industrias Tabaqueiras poderiam alegar a interferência lesiva, ou seja, uma co-responsabilidade da CBS nas perdas avultadas, desta forma, não só Jeffrey Wigand seria responsável pelos danos, mas também a CBS como o veículo divulgador. Tal processo implicava somas avultadas o que abalaria a reputação da CBS no mercado e consequentemente o valor das suas acções.

Apesar de a CBS ser um gigante da comunicação, viu-se confrontada com a possibilidade de um processo com um gigante ainda maior, levando-os a abandonar um “furo jornalístico exclusivo” e que era do interesse público.

Os Mass Media têm o poder de “construir” e “destruir”, mas penso que também eles têm de obedecer muitas vezes a poderes bem mais altos e influentes, com o risco de crescerem ou morrerem.

Este episódio tornado público pelos Media, foi importante pela exposição mediática que levou as tabaqueiras, pela 1ª vez na história, a pagar milhões de dólares de indemnização a vários estados norte-americanos.

Alexandre Pereira 1º FB

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