Após anos a ganhares pó, diário, vou-te
carimbar pela primeira vez, há uma cena altamente que merece ficar aqui para
mais tarde recordar.
Como sempre de depois de chegarmos da escola, fomos
jogar à bola pró muro do cemitério e, como sempre, o cromo do Filho da Coxa
mais uma vez lixou-nos e meteu a bola dentro do cemitério, e o guarda não a dá,
temos de esperar pela noite para a ir buscar, senão era uma vez uma bola.
Como é da praxe quem mete a bola
no cemitério tem de a ir buscar, o problema dos cães do guarda está resolvido,
desgraçados dos gatos das vizinhas, o que for apanhado vai ter muito que
correr, agora o Filho da Coxa já estava a pedi-las, era sempre a mesma coisa. Já
perdemos a conta das vezes que ficamos de castigo por causa dele, é que o
guarda depois faz queixa aos velhos, e lá fomos jantar com a desforra marcada
para depois do jantar.
À hora marcada la estávamos todos
prontos, mas o Filho da Coxa ainda não tinha aparecido, diz o Manuel (o gordo),-
O gajo esta com medo de entrar no cemitério, se ele não aparecer amanhã dou-lhe
na escola, e vira-se o Felipe (o maluco), - Vamos é pregar uma partida ao
cromo, ele vai-se borrar todo.
E lá acertámos as coisas e fomos
à procura de dois gatos com habitual, passado um bocado aparece o Filho da Coxa
e, como se não fosse nada com ele e diz,- A bola, já lá foram? Eu disse, - Claro
que não, tu é que vais. Já temos os gatos e já vais com sorte.
Então,
como sempre, subimos todos para cima do muro e começámos a fazer barulho,
passado um bocado lá apareceram os cães, e lá vai um gato, será que é hoje que
os cães o apanham?
Os
cães já estão entretidos, vamos lá apanhar o Filha da Coxa. Ele, eu e o Maluco
saltámos o muro. Eu fiquei como gato e o Maluco à coca dos cães, e o coitado lá
foi para onde dissemos que estava a bola. Quando deixámos de o ver, o resto do
pessoal saltou o muro e lá fomos atrás da bola, por sorte fui eu que a
encontrei e, como combinado, deitei-me entre as campas com a bola mesmo a jeito,
era só estender o braço. Passado um bocado lá o vejo vir, aninhei-me o melhor
que consegui, a sorte é que a luz era pouca, e lá vem ele buscar a bola, e quando
está quase a agarrá-la, eu sento-me e agarro-lhe o braço.
Ele
apanhou o maior susto da vida dele… e o resto não conto.
Lourenço 2º BC
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