sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Lisboa, 31 de Maio de 1983



Após anos a ganhares pó, diário, vou-te carimbar pela primeira vez, há uma cena altamente que merece ficar aqui para mais tarde recordar.
 Como sempre de depois de chegarmos da escola, fomos jogar à bola pró muro do cemitério e, como sempre, o cromo do Filho da Coxa mais uma vez lixou-nos e meteu a bola dentro do cemitério, e o guarda não a dá, temos de esperar pela noite para a ir buscar, senão era uma vez uma bola.
Como é da praxe quem mete a bola no cemitério tem de a ir buscar, o problema dos cães do guarda está resolvido, desgraçados dos gatos das vizinhas, o que for apanhado vai ter muito que correr, agora o Filho da Coxa já estava a pedi-las, era sempre a mesma coisa. Já perdemos a conta das vezes que ficamos de castigo por causa dele, é que o guarda depois faz queixa aos velhos, e lá fomos jantar com a desforra marcada para depois do jantar.
À hora marcada la estávamos todos prontos, mas o Filho da Coxa ainda não tinha aparecido, diz o Manuel (o gordo),- O gajo esta com medo de entrar no cemitério, se ele não aparecer amanhã dou-lhe na escola, e vira-se o Felipe (o maluco), - Vamos é pregar uma partida ao cromo, ele vai-se borrar todo.
E lá acertámos as coisas e fomos à procura de dois gatos com habitual, passado um bocado aparece o Filho da Coxa e, como se não fosse nada com ele e diz,- A bola, já lá foram? Eu disse, - Claro que não, tu é que vais. Já temos os gatos e já vais com sorte.
Então, como sempre, subimos todos para cima do muro e começámos a fazer barulho, passado um bocado lá apareceram os cães, e lá vai um gato, será que é hoje que os cães o apanham?
Os cães já estão entretidos, vamos lá apanhar o Filha da Coxa. Ele, eu e o Maluco saltámos o muro. Eu fiquei como gato e o Maluco à coca dos cães, e o coitado lá foi para onde dissemos que estava a bola. Quando deixámos de o ver, o resto do pessoal saltou o muro e lá fomos atrás da bola, por sorte fui eu que a encontrei e, como combinado, deitei-me entre as campas com a bola mesmo a jeito, era só estender o braço. Passado um bocado lá o vejo vir, aninhei-me o melhor que consegui, a sorte é que a luz era pouca, e lá vem ele buscar a bola, e quando está quase a agarrá-la, eu sento-me e agarro-lhe o braço.
Ele apanhou o maior susto da vida dele… e o resto não conto.
Lourenço 2º BC

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