segunda-feira, 18 de maio de 2009

Aqui começa a experiência

Plant Watching


Caríssimos alunos:

Este espaço é nosso, só nosso.... temos de começar a preenchê-lo.

Vamos começar com as memórias?


Vou publicar aqui o ternurento texto da Maria Rosa Colaço para que sirva de inspiração a outras memórias....




As asas crescem devagar

Quando eu era pequena, a minha maior alegria era semear coisas. Semeava caroços de laranja, de nêspera, pevides de melão, raízes ínfimas de violetas, pétalas de cravo, olhinhos amarelos de malmequer. Semeava nos vasos, nos canteiros da escola e, sobretudo, debaixo de uma nespereira enorme que havia no quintal da minha casa de infância. As sementes transformavam-se. Primeiro eram folhas tenras, depois, plantas que cresciam, às vezes trepavam, às vezes... não acontecia nada.

Um dia o meu canário morreu. Logo, não percebi muito bem o que lhe tinha acontecido. Depois descobri que alguma coisa diferente, silenciosa, fria e inesperada, interrompia a vida. Então, fui também semear o canário. Durante dias e dias aguardei, debaixo da nespereira, que o canário voltasse. Primeiro seria o bico. Depois os olhinhos e, depois ainda, um voo rápido e uma canção.

Passaram-se muitos anos. Quando olho lá para trás sei que descobri que a vida é um milagre. Semear qulaquer coisa que fique, que cresça, que deixe um sinal, mesmo pequenino, deve ser o sentido dos nossos dias. E, em certas horas ainda acredito que o canário voltará. É talvez uma semente que demora um pouco mais do que as outras porque tem asas e as asas crescem devagar. Mas eu sei, tenho a certeza que um dia, de repente, no alto de uma árvore qualquer eu avistarei essa ave. E conto com vocês que me lêem para me ajudarem a descobri-la. Está bem?


Maria Rosa Colaço, in De que são feitos os sonhos, Areal

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