domingo, 27 de março de 2011

A minha infância

Somos cinco irmãos, três meninas e dois rapazes e vivíamos em Angola naquela altura.

     Eu era a mais nova, recordo-me de algumas coisas da minha infância. Segundo a minha mãe me contou,  nasci com 3.800kg, era uma criança saudável e forte e todos gostavam de mim. O tempo foi passando e cresci vendo os meus pais saindo de casa para irem trabalhar enquanto nós ficávamos com a minha avó. Ela tinha o hábito de contar muitas histórias e carregar-nos no seu colo, quando tinhamos sono. O meu irmão mais velho nunca obedecia à minha avó. Logo que os meus pais saíam ele também saía para brincar com os seus amigos fora de casa. Aprendi muitas coisas com a minha avó. Aos seis anos frequentei uma creche, onde tinha também os meus amiguinhos. O meu pai tinha um carro verde de marca Ford, com cinco portas. Muito mais tarde o meu pai teve um comércio (loja e café) onde ele vendia muitos artigos e eu gostava de saborear tudo o que o meu pai vendia. Quando era a vez da minha mãe não havia nada para ninguém!
    Aos nove anos já era um pouco mais crescida via o meu pai escutar rádio, que nunca saía da cabeceira da sua cama. Estava sempre a par das notícias sobre Angola, Savimbi e Agostinho Neto, lamentando que Agostinho Neto não quisesse sair do poder para dar o lugar ao outro líder. Recordo andar pelas ruas à noite com os meus familiares assim que acabávamos de jantar. Gostava daquelas luzes que transformavam as nossas vestes, descendo as barrocas, descalços e a minha mãe berrando connosco: "Vocês já estão todos limpos e vão se sujar de novo!", e o meu pai dizendo: "Joana, deixa os meninos brincarem à vontade" e minha mãe respondendo: "Pois é, não és tu que lhes dás o banho à noite", e o meu pai gozando com ela.

Um belo dia fomos todos ao cinema no Kipaca, uma das casas de cinema do bairro, à sessão das 15h.

No regresso a casa um grupo de polícias com armas pediu ao meu pai para mostrar os documentos do carro. Todos ficámos com medo e a tremer e o meu pai dizendo: "Tenham calma, o carro está todo legalizado". Em seguida pediram dinheiro ao meu pai, e o meu pai deu-lhe tudo que tinha na carteira.

A partir daquele dia, parámos de sair à noite.

Vanda Ramos 2ºAE




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