terça-feira, 9 de março de 2010

Memórias de infância




Lembro-me de quase tudo na minha infância, e aquilo que não me lembro faço questão de perguntar a quem se lembre de como eu era ou o que fazia. Mas há situações, sítios, pessoas, sentimentos que não se esquecem, e que ficam marcados para o resto da nossa vida. Em agosto de 1995 teria eu perto de 6 anos passava como sempre o verão numa aldeia de Castelo Branco, em casa da minha avó. Sempre houve coisas que detestei como ficar de castigo, gritarem comigo, não me deixarem ver o meu canal de TV preferido ou ter o meu lugar no sofá ocupado. Quando ia para a aldeia da minha avó não havia nada disso.
Catraia Cimeira é o nome da aldeia. Pequena, com poucos habitantes, poucos recursos, sem comércio ou indústria, só tem mesmo um café e mesmo assim para lá chegar tem de se andar bastante. A casa da minha Avó era muito antiga,ainda feita de pedra e o chão feito com estacas de madeira. A cozinha era feita de pedra também, nos quartos só cabia a cama e nem espaço para uma mesa de cabeceira havia. A casa de banho era no exterior na casa e havia uma cave que servia para armazenar o azeite produzido pela familia. Nem luz eléctrica tinhamos. Por isso quando ia passar férias para a Catraia nada me chateava, não havia televisão, tinha que me conformar, o sofá era apenas um pequeno assento que só dava para uma pessoa, e como iamos sempre os quatro netos, acabavamos sempre por ceder o assento á Avó Carmo. Em frente da casa existe um terreno enorme, com laranjeiras, limoeiros e oliveiras onde brincávamos. Mesmo que tivesse de castigo, havia sempre escapatória possivel.
Lembro-me de nesse ano ter ficado com uma perna entalada no palheiro . A minha Avó tinha avisado que havia um buraco no chão e que o chão podia ceder, mas as crianças são teimosas e mesmo assim eu fui lá, para dar comida ao burro, que estava no andar de baixo. Não me apercebi, meti o pé no buraco e fiquei com a perna entalada. O burro que estava no andar de baixo mordiscou-me o ténis e eu levei ainda cinco pontos na perna, para além do castigo da minha Avó. Todas estas peripécias aconteceram numa terra que eu amo e com uma pessoa que se tornou um ídolo para nós porque falava connosco sem precisar de gritar. É bom recordar!

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