sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mesmo felizes, há sempre histórias tristes para contar...


Falámos algumas vezes, sobre o porquê de termos escrito no blog só histórias felizes da nossa infância e não a história de algo mau que nos aconteceu.

Posso lhe contar uma...que até acabou da melhor maneira, mas que custou imenso a ultrapassar.

E porque não seguir o exemplo da ficha?

Quando era pequena, sempre soube que tinha um angioma na orelha, que até era engraçado de certa forma, porque conseguia sentir o bater do meu coração nela. Era feliz! Tinha um angioma, que a minha mãe sempre me explicou que era uma veia mais cheia na orelha e que por isso a orelha era um pouco maior e mais escura que a outra. Mesmo sendo nova e ter preconceitos de muita coisa em mim, nunca tive vergonha da minha orelha, mesmo quando na escola me gozavam.

Um dia, convidaram-me para ir tocar para uma banda filarmónica. Não achava muita graça aquilo, mas com os meus 11 anos ganhei uma paixão.

Adorava tudo o que rodeava a música e aquela banda. Chegava a faltar às aulas para ir para casa tocar no meu clarinete. Aquilo era a minha vida. Quando baixava as notas da escola, os meus pais ameaçavam que me tiravam de lá, e eu chorava "baba e ranho" para eles não me fazerem isso.

Mais tarde, comecei a sentir dores na orelha, procurei a minha médica que sempre me disse que não podia fazer nada, porque angioma se situava na cartilagem da orelha e não tinha carne suficiente para fazer uma operação.

Sentia cada vez mais dores, principalmente quando ia aos ensaios e esforçava a tocar, mas nem queria pensar na hipótese de deixar de tocar, a música era tudo para mim.

Até que a minha médica me proibiu de tocar, e as dores diminuíram. A minha vida tinha desmoronado. Chorava tardes inteiras só de pensar que nunca mais na minha vida ia poder tocar. Falei com o meu maestro, que é a melhor pessoa do mundo, que me aconselhou a mudar de instrumento para o saxofone soprano e já nem sentia muitas dores. Pesquisei na Internet sobre o meu angioma e li que era uma espécie de tumor, mas nem liguei a isso.

O pior foi que as dores voltaram e metia coisas absurdas na cabeça que me deixavam triste. Mas eram dores insuportáveis. Tantas vezes que fui para o Centro de Saúde e de emergência para o hospital com dores que até me paralisavam o braço direito e a fala. As respostas eram sempre as mesmas: "Vai levar estas analgésicos que lhe vão ajudar a passar as dores.". Até injecções eu levava, porque os analgésicos em comprimidos não me faziam efeito e as dores eram cada vez mais.

Sempre tive o apoio de todos os meus amigos, que me diziam que um dia ia ficar boa e que poderia voltar a tocar. Queria muito acreditar nisso, mas as esperanças iam se esgotando.

Tive quase 2 anos sem tocar. Para matar saudades de vez em quando ia aos ensaios, mas era pior, porque me lembrava do meu tumor e que não sabia quando iria poder voltar a sentar-me em cima de um palco para dar um concerto.

Naqueles dias com dores insuportáveis que fui para o hospital, apareceu uma luz bem no fundo do túnel, que me disse que se eu fizesse laiser que possivelmente ficaria boa. Mas deu-me o número errado de um médico chamado Luiz Leite que tinha uma clínica em Belém e que me poderia ajudar. Como o número estava errado, a luz no fundo do túnel, tinha-se apagado.

No meio de conversas com amigos, disseram-me que tinham uma filha que era médica que ia tentar arranjar uns contactos de um médico particular especializado em vasos sanguíneos.


Consegui a consulta, e para minha felicidade, ele disse-me que ia ficar curada e que até haviam duas opções, ou o laiser ou a embolização. Mas que primeiro queria que eu fosse vista por um colega dele, que tinha uma clínica de laiser para ver o que ele dizia.

Foi então que consegui uma consulta, no dia 6 de Janeiro de 2009 e, conheci o meu herói, podemos chamar-lhe assim. O número que o médico me tinha dado era o do Doutor Luiz Leite, o tal que tinha a Clínica em Belém.

Quando me viu e mexeu na minha orelha, disse logo que íamos começar com o laiser, que poderia não ser 100% eficaz, mas 75% ele afirmava que era.

No dia 23 de Janeiro às 10h da manhã, lá estava eu toda contente, na Clínica Laiser de Belém, pronta para fazer o meu primeiro laiser. Foram cerca de 10 minutos super dolorosos e de 250€ por sessão que paguei, que eu sabia que iam valer a pena.

Foram 4 sessões a laiser que fiz, entre elas, 8 dias com a orelha roxa do queimado do que seria uma recuperação de um tumor que eu pensava que nunca me ia ver livre.

No passado dia 6 de Maio, fiz o meu último laiser.

Finalmente estou bem! Já não sinto dores e a minha orelha até está mais pequena.

Já passou um mês, quando olho para trás, recordo tudo o que passei e o que sofri.

Agora, apesar do tempo ser pouco, sempre que tenho um bocadinho, lá estou eu nos ensaios da banda, a tocar para matar saudades. É pouco, mas pelo menos toco quando tenho um pouco de tempo e sei que estou bem.

Recordo os momentos em que chorava e os meus amigos estavam todos do meu lado, sempre para me darem força e me apoiarem. Hoje sei que tenho amigos verdadeiros com que posso sempre contar.






P.S.: Contei esta minha história, para o professor António Sanches não pensar que só temos histórias felizes para contar.

2 comentários:

  1. Gostei de saber duas coisas: a primeira que ficou curada à custa do laser do Dr. Leite. A segunda que foi por minha causa (!) que escreveu este texto engraçadíssimo. Até já.
    António Sanches

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  2. Oi Carla!! Estando pesquisando na Internet sobre Angiomas ou mesmo Hemangiomas, me deparei com depoimento. Li todo ele louca de vontade chegar ao final e saber que tinhas conseguido a solução para teu problema. Minha angústia é porque meu filho de 9 anos tem o mesmo problema e na mesma orelha. Estou deseperada pois o problema só surgiu a partir de julho de 2010(até então, ele não tinha nada na orelha). Os médicos que procurei não me dizem nada de concreto, só mandam que aguardemos. Não posso mais esperar pois percebo que a orelha está cada vez mair e mais avermelhada. Por favor me mande uma "luz" por one devo começar a procurar uma saída...
    Aguardo ansiosamente uma resposta. Meu email é neivanuness@hotmail.com

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